quarta-feira, 7 de julho de 2021

RELATÓRIO "AINDA? ESSA É A PALAVRA QUE MAIS DÓI"

     



"O Comitê Internacional da Cruz Vermelha(CICV) lançou no dia 6 de julho, o relatório"Ainda? Essa é a palavra que mais dói", uma exposição do sofrimento das famílias que têm um ente querido desaparecido. O documento traz a público os dados da "Avaliação das Necessidades de Familiares de Pessoas Desaparecidas em Contexto de Violência e Outras Circunstâncias no Estado de São Paulo".


O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) lançou, no dia 6 de julho, o relatório"Ainda? Essa é a palavra que mais dói", uma exposição do sofrimento das famílias que têm um ente querido desaparecido. O documento traz a público os dados da "Avaliação das Necessidades de familiares de Pessoas Desaparecidas em Contexto de Violência e Outras Circunstâncias no Estado de São Paulo". O objetivo é viabilizar a divulgação mais ampla das consequências destes desaparecimentos em todo o Brasil, além de mostrar, através deste trabalho, que todos os elementos estão interligados, de maneira que ações efetuadas dentro de um determinado ponto venham a influenciar nos demais. Esta ligação direta torna um acerto ainda mais relevante, pois uma rede sistêmica tende a ampliar o resultado das ações. Porém caso seja tomada uma atitude errada, a correção será muito mais difícil.




    Entre os participantes, estavam especialistas do CICV, familiares de pessoas desaparecidas, autoridades que atuam nos casos e entidades ligadas à causa dos desaparecidos. Os diálogos destacaram as consequências dos desaparecimentos no meio familiar, a mudança que a situação traz no cotidiano dos envolvidos e que respostas mais efetivas podem ser dadas em relação a estas ocorrências, tendo como base a avaliação de necessidades dos familiares de pessoas desaparecidas, através  de dados coletados no estado de São Paulo, em 2018. Vale destacar que embora o relatório tenha sido elaborado tendo como referência informações de São Paulo, estado com maior número de pessoas desaparecidas no Brasil, as observações existentes no documento podem ser estendidas ao restante do país, de maneira que as particularidades de cada região sejam consideradas e seus parâmetros seguidos, viabilizando uma visão mais ampla acerca do assunto. 




    

    Alexandre Formisano, chefe da Delegação Regional do CICV, fez uma breve  apresentação do relatório, após Rita Palombo, coordenadora de proteção da Delegação Regional do CICV, abrir o evento. Em seguida, Fabrício de Souza, membro do Programa de Pessoas Desaparecidas e suas Famílias em SP/CICV, fez uma explanação sobre a metodologia utilizada na organização do documento. Posteriormente familiares de pessoas desaparecidas foram entrevistados. As ações de busca por conta da família, as expectativas de respostas e as consequências na saúde física, mental e psicossocial foram citadas. Também foi reconhecida a importância de um atendimento híbrido a quem possui um ente querido desaparecido. O endereçamento das questões objetivas relativas à busca da pessoa desaparecida, citado anteriormente por Larissa Leite, coordenadora para o Programa de Pessoas Desaparecidas e Suas Famílias CICV, e uma assistência psicológica acrescida de uma escuta acolhedora e ativa foram considerados por Renata Reali, coordenadora do Programa de Saúde Mental e Atenção Psicossocial do CICV,  essenciais na assistência às famílias  









    Daniel Mamede, membro do Programa de Pessoas Desaparecidas e suas Famílias em Fortaleza / CICV, abordou a necessidade de reconhecimento, tratamento igualitário e  justiça. O diálogo fluiu naturalmente para as  necessidades jurídicas e administrativas, desaguando em um assunto bastante delicado: a declaração de morte presumida. Fabrício de Souza destacou que a morte presumida vai de encontro ao interesse dos familiares , que desejam encontrar o ente querido, acreditam que ele está vivo, porém diante de entraves burocráticos do cotidiano, inclusive nas esferas jurídica e administrativa, são obrigados a recorrer a esta alternativa. Por isto a declaração de morte presumida é vista como um documento conflitante. Há um simbolismo muito significativo, a partir do momento em que a pessoa desaparecida é dada como morta. Portanto não é uma solução recomendável. Uma declaração de que a pessoa está desaparecida se encaixaria melhor no cenário, mas não existe este status jurídico. 




    A última necessidade abordada foi a econômica. A abordagem do tema ficou ao encargo de Diego de  Castro, integrante do Programa de Pessoas Desaparecidas RJ / CICV.  Ele mostrou como o desaparecimento de um familiar gera impacto econômico negativo na vida das pessoas. Há investimentos em ações de busca - mães já  venderam panelas para arrecadar dinheiro para o processo de busca dos filhos -,  geração de dívidas, casos de desemprego e ainda a redução da renda familiar causada pela perda do apoio econômico por parte do desaparecido, quando este trabalha e tem dependentes diretos. A ausência do provedor  transfere a responsabilidade do sustento a outros integrantes da família, além de trazer dificuldades relacionadas ao pagamento de dívidas, acesso à contas bancárias e dificuldades para vender algum bem pertencente à pessoa que tem o paradeiro ignorado.  


      




    




    


    

    

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