O direcionamento de um indivíduo desorientado, devido ao desaparecimento de um ente querido, a um espaço capaz de oferecer um atendimento psicológico padrão para este tipo de acontecimento já deveria ter sido introduzido como um procedimento normal nas delegacias.
O fato de ter um familiar desaparecido, principalmente quando se trata de uma criança, um filho, é uma situação atípica que traz como consequências abalos psicológicos capazes de deixar sequelas, praticamente, irreversíveis, como uma depressão profunda, por exemplo. O quadro adverso afeta o relacionamento familiar e pode impulsionar conflitos, chegando ao extremo de causar separações. A falta de estrutura do Estado para lidar com este tipo de situação, torna o cenário ainda pior. Infelizmente, não há um atendimento voltado para o contexto psicológico na maioria das delegacias do país. Esta carência é logo percebida, quando o familiar de algum desaparecido vai registrar a ocorrência em uma unidade policial. Não há o encaminhamento da pessoa que sofre com o desaparecimento de um ente querido, a um local especializado neste tipo de tratamento.
O direcionamento de um indivíduo desorientado, devido ao desaparecimento de um ente querido, a um espaço capaz de oferecer um atendimento psicológico padrão para este tipo de acontecimento já deveria ter sido introduzido como um procedimento normal nas delegacias. Esta necessidade já foi identificada em alguns estados. Por isto, determinadas instituições, inclusive delegacias especializadas em desaparecimentos, como a Delegacia de Descoberta de Paradeiros – DDPA -, no Rio de Janeiro, e a ONG Mães da Sé, em São Paulo, já trabalham com psicólogos junto as suas respectivas equipes, visando amenizar o sofrimento e restabelecer, dentro do possível, o equilíbrio de quem se encontra envolvido em uma situação imprevista, na qual imperam as incertezas.
Na DDPA do Rio, o trabalho envolvendo a assistência psicológica, um pioneirismo na cidade, é desenvolvido em conjunto com a Secretaria de Estado e Assistência Social e Direitos Humanos. Foca os parentes de pessoas desaparecidas não só no contexto psicológico, como também no contexto social. O objetivo é pôr em prática várias ações que ofereçam amparo aos familiares de desaparecidos, ainda mais quando o desaparecimento envolve crianças. Neste caso a situação fica ainda mais tensa. A gravidade da ocorrência é maior e isto influi, negativamente, no emocional dos familiares, a partir do momento em que a vítima é mais vulnerável em relação à investida de algum estranho, sequestrador, devido à fragilidade.
A Mães da Sé realiza as atividades de assistência psicológica aos familiares de crianças desaparecidas, através de uma parceria com a Universidade Mackenzie. Consultas gratuitas são dadas às mães e às crianças encontradas. A Dra. Cristiane Barbieri, psiquiatra, é a responsável por este trabalho. A necessidade deste tipo de auxílio também é comprovada pela declaração dada, em 2011, por Eliane Levy, então coordenadora do Departamento de Assistência Psicológica da ABCD. Ela disse: “O drama vivido por essas famílias merece um acompanhamento psicológico sistemático que tenha a finalidade de amenizar as sequelas deixadas por uma situação como essa". Segundo a especialista, a assistência psicológica deve acontecer durante o período de desaparecimento do familiar e posteriormente. Ela expôs que algumas mães não retomam a vida normal, prejudicadas, psicologicamente, pelos efeitos da experiência traumática.
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